- Oie tia, a
Manu ta aí? – Pietra ligou para a casa de Manu.
- Não Pietra,
ela foi ao cabeleireiro.
- Que bom!
Queria falar algo com a senhora. O niver da Manu esta chegando. Estou pensando
no que fazer, se fazemos uma festa surpresa ou saímos... O que a senhora acha?
- A Manu não
gosta muito de festa pra ela. Ela gosta mesmo de fazer para os outros.
- Mas por
quê?
- Ela é
engraçada Pietra, ela se doa tanto para os outros que festa pra ela, ela não vê
graça. É como se fosse perda de tempo. Se você pegasse o dinheiro da festa e
doasse, ela ficaria mais satisfeita, por exemplo.
- Que isso?
Sério, tia? Ela já comentou que não gostava muito, mas não levei a sério. Ela
merece comemorar o aniversário dela.
- Ele não liga
de comemorar, não liga para aniversários.
- Vê se
pode? Que coisa...
- Ela gosta
de sair, fazer coisas diferentes.
- Entendi.
Eu sou do contra, a vontade que dá é de dar uma super festa. Mas vou pensar...
Mudando de assunto, o que ela foi fazer no salão?
- Pintar o
cabelo.
- Retocar,
né?
- Não. Quer
voltar a cor normal.
- Como você
fala isso com essa naturalidade, tia?! Meu Deus! Ela não pode fazer isso. Faz
quanto tempo que ela saiu?
- Agora
pouco. A Manu é de fases, Pietra, acho que você não acostumou ainda.
- Eu sei,
mas ela não pode pintar o cabelo assim, do nada. Que isso? Vou lá agora! Tchau,
beijos
- Tchau
minha linda!
Manu estava na
sala de espera do salão, olhando as cores de tinta quando Pietra surgiu como um
furacão, com cara de assustada, toda esbaforida.
- Que isso,
meu pai? Quem morreu? – Manu perguntou.
- O que você
pensa que esta fazendo?
- Quero
pintar meu cabelo, ora. Normal.
- Normal? Como
pode ser tão desprendida? Você é a menina do cabelo azul, desde que eu te
conheço!
- Eu sei
Pietra, mas as pessoas às vezes mudam.
- Mas por
quê?
Manu olhou
em volta e as pessoas estavam olhando. Ela puxou Pietra para fora do salão.
- Eu não
tenho problema em mudar meu cabelo Pietra, é só algo físico.
- Mas é sua
marca! Estou boba de você não sentir nenhum dó.
- É claro
que dá dó. Mas nada é eterno.
- Não. Você
não me convence. Aconteceu alguma coisa. Não é possível. E você é minha melhor
amiga, como não me conta algo assim?
- Para você
não dar chilique como esta dando?
- Estou
esperando dona Manu, quero explicações. Bora, desembucha.
- Tu é muito
chata, sabia?
- Fale.
- Tá bom, tá
bom. Você não notou nada de diferente acontecendo na escola não?
- Não que eu
lembre, como assim?
- No projeto
da coordenadora! - Manu estava ajudando as meninas do primeiro ano da escola em
um projeto sobre bullying, autoaceitação e dificuldades que os jovens enfrentam
nessa fase. A coordenadora gostava muito de Manu e pediu que ela liderasse as
meninas mais novas nesse desafio.
- O quê?
Manu pegou o
celular e mostrou uma foto para Pietra. Muitas meninas estavam de cabelos
coloridos, e a maioria, de cabelo azul.
- Caraca,
sua fãs?
- É por aí...
Tenho passado lições semanais muito legais pra elas, a gente conversa muito. Mas
todo dia que abro o face me aparece outra de cabelo colorido.
- O que tem?
Elas te veem como exemplo! Isso é massa!
- Mas
Pietra, eu não sou resolvida por causa do meu cabelo, eu não tenho a fé que
tenho por causa do meu cabelo. O cabelo é um detalhe. Elas estão confundindo as
coisas, se empolgando. Eu não quero que elas pintem o cabelo por empolgação,
por acharem que isso as deixará mais confiantes ou com atitude.
- Isso é,
jovem se empolga às vezes...
- É que eu
queria que o que chamasse atenção em mim... fosse Deus, não meu cabelo. Que
elas olhassem pra mim e vissem Deus. Afinal, Deus é o motivo de tudo. É meu
chão, meu ar, meu equilíbrio, minha confiança.
- Por isso
quer pintar seu cabelo?
- Sim. As
meninas veem meu cabelo como um grito de liberdade, de autoestima, de
aprenderem ser autossuficientes, de emponderamento. Essa não é a mensagem que
quero passar. O problema aqui não é elas pintarem o cabelo em si, mas a
motivação. Entende?
- Mas a
culpa não é sua se elas que interpretam errado. Fora que é só conviver um pouquinho mais com você que é visível o quanto você
transborda Deus, me diz uma coisa, você costuma falar de Deus para elas?
- Bem pouco,
é um projeto escolar.
- Deve ser
isso então. Você não esta sendo totalmente você. E Deus é seu lado mais bonito.
- É que tento não misturar
muito as coisas por ser um ambiente escolar, a coordenadora pode não gostar,
estou tentando ser profissional.
- Cara! Tive
uma super ideia!
- O quê?
- Seu niver
esta chegando, e se a gente fizesse uma festa e as chamasse? Chamava também suas
amigas da igreja e tals. Tipo um “encontro de meninas” e você contava sua história,
seu testemunho, rolava vários papos maneiros, comida e música? Você poderia
falar de Deus abertamente. Aí elas vão entender o real porque de você ser assim. Vão entender que você não quer que elas saiam
pintando o cabelo impulsivamente, mas que conheçam a Deus... como você conhece!
- Você um
gênio! É uma ótima ideia! Usar meu aniversário para levar meninas a Deus!
- Eu sei!
Obrigada! Aí sabe o que vai acontecer? O mesmo que aconteceu comigo.
- O quê?
- Eu vejo
tanto Deus em você que até esqueço que tem cabelo azul.
- Fico muito feliz com isso! O que tem que chamar mais atenção na gente é Deus mesmo, e se isso não acontece, não estamos fazendo um bom trabalho... - Disse Manu, pensativa - Acho que agora consegui entender o que houve e nós vamos dar um jeito nisso!
- Fico muito feliz com isso! O que tem que chamar mais atenção na gente é Deus mesmo, e se isso não acontece, não estamos fazendo um bom trabalho... - Disse Manu, pensativa - Acho que agora consegui entender o que houve e nós vamos dar um jeito nisso!
Manu mordeu
os lábios, ansiosa e feliz. Era exatamente isso, ela não precisava mudar o
cabelo, precisava mais uma vez, mudar a visão daquelas meninas.
Continua...
Amei. Continua. Acabei de ler A menina do cabelo azul todo em uma noite.
ResponderExcluirMenina voce escreve muito bem, queria escrever assim como voce. Chorrei em varias partes.
Voce me mostro Deus de um jeito que eu nunca tinha visto, de uma forma tranquila.
Amei continua sempre assim.
Nossa estou impactada com a história a cada capítulo Kell. Por favor continue escrevendo.
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