segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

A menina do cabelo azul [30] - Cabelo azul?

- Oie tia, a Manu ta aí? – Pietra ligou para a casa de Manu.
- Não Pietra, ela foi ao cabeleireiro.
- Que bom! Queria falar algo com a senhora. O niver da Manu esta chegando. Estou pensando no que fazer, se fazemos uma festa surpresa ou saímos... O que a senhora acha?
- A Manu não gosta muito de festa pra ela. Ela gosta mesmo de fazer para os outros.
- Mas por quê?
- Ela é engraçada Pietra, ela se doa tanto para os outros que festa pra ela, ela não vê graça. É como se fosse perda de tempo. Se você pegasse o dinheiro da festa e doasse, ela ficaria mais satisfeita, por exemplo.

- Que isso? Sério, tia? Ela já comentou que não gostava muito, mas não levei a sério. Ela merece comemorar o aniversário dela.
- Ele não liga de comemorar, não liga para aniversários.
- Vê se pode? Que coisa...
- Ela gosta de sair, fazer coisas diferentes.
- Entendi. Eu sou do contra, a vontade que dá é de dar uma super festa. Mas vou pensar... Mudando de assunto, o que ela foi fazer no salão?
- Pintar o cabelo.
- Retocar, né?
- Não. Quer voltar a cor normal.
- Como você fala isso com essa naturalidade, tia?! Meu Deus! Ela não pode fazer isso. Faz quanto tempo que ela saiu?
- Agora pouco. A Manu é de fases, Pietra, acho que você não acostumou ainda.
- Eu sei, mas ela não pode pintar o cabelo assim, do nada. Que isso? Vou lá agora! Tchau, beijos
- Tchau minha linda!

Manu estava na sala de espera do salão, olhando as cores de tinta quando Pietra surgiu como um furacão, com cara de assustada, toda esbaforida.
- Que isso, meu pai? Quem morreu? – Manu perguntou.
- O que você pensa que esta fazendo?
- Quero pintar meu cabelo, ora. Normal.
- Normal? Como pode ser tão desprendida? Você é a menina do cabelo azul, desde que eu te conheço!
- Eu sei Pietra, mas as pessoas às vezes mudam.
- Mas por quê?
Manu olhou em volta e as pessoas estavam olhando. Ela puxou Pietra para fora do salão.
- Eu não tenho problema em mudar meu cabelo Pietra, é só algo físico.
- Mas é sua marca! Estou boba de você não sentir nenhum dó.
- É claro que dá dó. Mas nada é eterno.
- Não. Você não me convence. Aconteceu alguma coisa. Não é possível. E você é minha melhor amiga, como não me conta algo assim?
- Para você não dar chilique como esta dando?
- Estou esperando dona Manu, quero explicações. Bora, desembucha.
- Tu é muito chata, sabia?
- Fale.
- Tá bom, tá bom. Você não notou nada de diferente acontecendo na escola não?
- Não que eu lembre, como assim?
- No projeto da coordenadora! - Manu estava ajudando as meninas do primeiro ano da escola em um projeto sobre bullying, autoaceitação e dificuldades que os jovens enfrentam nessa fase. A coordenadora gostava muito de Manu e pediu que ela liderasse as meninas mais novas nesse desafio.
- O quê?
Manu pegou o celular e mostrou uma foto para Pietra. Muitas meninas estavam de cabelos coloridos, e a maioria, de cabelo azul.
- Caraca, sua fãs?
- É por aí... Tenho passado lições semanais muito legais pra elas, a gente conversa muito. Mas todo dia que abro o face me aparece outra de cabelo colorido.
- O que tem? Elas te veem como exemplo! Isso é massa!
- Mas Pietra, eu não sou resolvida por causa do meu cabelo, eu não tenho a fé que tenho por causa do meu cabelo. O cabelo é um detalhe. Elas estão confundindo as coisas, se empolgando. Eu não quero que elas pintem o cabelo por empolgação, por acharem que isso as deixará mais confiantes ou com atitude.
- Isso é, jovem se empolga às vezes...
- É que eu queria que o que chamasse atenção em mim... fosse Deus, não meu cabelo. Que elas olhassem pra mim e vissem Deus. Afinal, Deus é o motivo de tudo. É meu chão, meu ar, meu equilíbrio, minha confiança.
- Por isso quer pintar seu cabelo?
- Sim. As meninas veem meu cabelo como um grito de liberdade, de autoestima, de aprenderem ser autossuficientes, de emponderamento. Essa não é a mensagem que quero passar. O problema aqui não é elas pintarem o cabelo em si, mas a motivação. Entende?
- Mas a culpa não é sua se elas que interpretam errado. Fora que é só conviver um pouquinho mais com você que é visível o quanto você transborda Deus, me diz uma coisa, você costuma falar de Deus para elas?
- Bem pouco, é um projeto escolar.
- Deve ser isso então. Você não esta sendo totalmente você.  E Deus é seu lado mais bonito.
- É que tento não misturar muito as coisas por ser um ambiente escolar, a coordenadora pode não gostar, estou tentando ser profissional.
- Cara! Tive uma super ideia!
- O quê?
- Seu niver esta chegando, e se a gente fizesse uma festa e as chamasse? Chamava também suas amigas da igreja e tals. Tipo um “encontro de meninas” e você contava sua história, seu testemunho, rolava vários papos maneiros, comida e música? Você poderia falar de Deus abertamente. Aí elas vão entender o real porque de você ser assim. Vão entender que você não quer que elas saiam pintando o cabelo impulsivamente, mas que conheçam a Deus... como você conhece! 
- Você um gênio! É uma ótima ideia! Usar meu aniversário para levar meninas a Deus!
- Eu sei! Obrigada! Aí sabe o que vai acontecer? O mesmo que aconteceu comigo.
- O quê?
- Eu vejo tanto Deus em você que até esqueço que tem cabelo azul.
- Fico muito feliz com isso! O que tem que chamar mais atenção na gente é Deus mesmo, e se isso não acontece, não estamos fazendo um bom trabalho... - Disse Manu, pensativa - Acho que agora consegui entender o que houve e nós vamos dar um jeito nisso!
Manu mordeu os lábios, ansiosa e feliz. Era exatamente isso, ela não precisava mudar o cabelo, precisava mais uma vez, mudar a visão daquelas meninas.

Continua...

2 comentários:

  1. Amei. Continua. Acabei de ler A menina do cabelo azul todo em uma noite.
    Menina voce escreve muito bem, queria escrever assim como voce. Chorrei em varias partes.
    Voce me mostro Deus de um jeito que eu nunca tinha visto, de uma forma tranquila.
    Amei continua sempre assim.

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  2. Nossa estou impactada com a história a cada capítulo Kell. Por favor continue escrevendo.

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