- Você esta
bem? – Manu perguntou preocupada.
- É
estranho, estranho falar sobre isso. Minha cabeça esta confusa. – Pietra desabafou.
As duas
estavam sentadas na beira da praia. Era o dia seguinte após o reencontro de Pietra
e seu pai, ela ainda estava mexida.
- É
frustrante, né?
- Muito. E você
usou a palavra certa. Fez lembrar o sentimento que tive quando ele saiu de casa
há anos atrás, é exatamente o mesmo sentimento: uma frustração profunda.
- Oh amiga,
não fica assim. Tente colocar pra fora o que sente e vou te ajudar a encarar
essa situação da forma certa. O que é frustrante?
- Ele ter desistido
de mim. É como seu eu não fosse boa o suficiente, como se eu não valesse a pena.
- Você esta
olhando isso do ângulo errado. Você não falhou como filha, ele falhou como pai!
Quem que era pra ser o maduro? O responsável? O adulto?
- Ele.
- Claro,
ele. Ele que não soube ser pai. Você era uma criança e uma pré-adolescente, ele
esperava o que de você? E que eu saiba você era bagunceira, mas não desobediente
e revoltada. Sempre foi uma boa filha.
- Mas amiga,
entende, se eu não existisse, talvez ele e minha mãe estivessem juntos... Ou
seja, eu sou o problema.
Manu ficou
em silêncio por uns instantes e em um impulso levantou, tirando seus óculos de
sol. Foi até a agua e se abaixou fazendo algo que Pietra não conseguia ver. Ela
voltou com as mãos para trás, escondendo os óculos.
- Quero te
mostrar uma coisa. – Manu estendeu a mão dando os óculos para Pietra, que se
assustou com a sujeira que estavam, molhados e com areia.
- Tu quer que
eu coloque isso, Manuela?
- Sim. E
insisto.
Pietra
balançou a cabeça, incomodada, e colocou com cuidado.
- Nossa,
isso esta horrível.
- Sim. E
como esta a paisagem, linda como é?
- Não, esta
toda embaçada, estranha.
- Tem
certeza?
- Sim, posso
tirar isso?!
- Olhe mais
em volta, olhe suas mãos, seus pés, as pessoas, os carros... Como estão?
- Horríveis.
Posso tirar? Vai cair areia no meu olho.
- Tira,
enjoada.
- Por que
fez isso? – Pietra disse tirando os óculos com cuidado.
- Porque quero
te fazer uma pergunta.
- Fala. –
Pietra deu os óculos para Manu.
- A paisagem,
as pessoas, os carros... são deformados, como você mesma viu?
- Não, claro
que não.
- Mas você
viu.
- Sim, mas
não eram elas que eram deformadas. Eram os óculos que estavam embaçados.
- Exato.
Mesma coisa com você! Você não é o problema, mas a visão do pai que é, a forma
que ele te enxerga.
- Uau! Chocante!
– Pietra disse, se limpando da terra que caiu em sua roupa, pensativa.
- Eu não sei
o que fez seu pai ter essa visão das coisas de forma tão destorcida, de repente
a criação, não sei. Mas o fato é que ele tem. E você não tem culpa nenhuma
nisso. Deus te fez e Ele não comete erros. Você é uma garota incrível e para
seu pai não enxergar isso, ele tem que estar com uma visão muito embaçada.
- E às vezes
ele pode nem perceber que tem essa visão, né?
- Com
certeza, isso é muito comum, e por isso não dá pra ficar com raiva dele também.
A pessoa não consegue entender, até tenta, mas simplesmente não consegue. É triste.
- E o que
fazer?
- Primeiro,
não ter raiva dela, mas sim compaixão, porque ela que esta perdendo. E segundo,
orar por ela e se der, conversar.
- Manu do
céu, isso faz todo sentido do mundo. Te amo guria! – Pietra a abraçou forte. –
Sei lá, parece que minha mente se abriu também, eu não sou um peso! – Pietra deixou
as lágrimas escorrerem.
- Nem por um
segundo. – Manu não aguentou e deixou as lágrimas escaparem com o alívio nítido
da amiga.
- Você não
sabe como é bom saber disso, eu não sou o problema, não sou um peso, não tenho
culpa! – As lágrimas brotavam continuamente – E meu pai não é um monstro! Só
tem uma visão muito errada das coisas, e não tem Deus, né amiga? Que ajuda
muito a gente enxergar as coisas da forma certa.
- Sem dúvida!
- Minha visão
também estava embaçada em relação a isso e você me ajudou a desembaçar!
- Eu te
ensinei a encarar a situação da forma certa, eu falei que ia fazer isso.
- Isso é
libertador, sabia? Obrigada!
- Obrigada
nada, quero um óculos novo! – Manu brincou.
As duas
começaram a rir. Pietra estava leve como há tempos não se sentia, parecia uma
criança, toda boba. Manu estava orgulhosa e muito feliz. Ela sabia que as
grandes mudanças começavam na mente. Quer mudar sua vida? Mude sua forma de
pensar! Busque a forma certa!
Os
pensamentos geram sentimentos, os sentimentos geram ações, as ações guiam sua
vida. A forma certa de pensar é tão importante, mas tão ignorada. As pessoas
acham que as coisas são como são, essa é uma forma tão medíocre de ver a vida.
É claro que algumas situações dificilmente são alteradas, mas a sua forma de pensar
sobre elas, essa sim, pode ser totalmente reeditada. Nada é definitivo na
complexa mente humana. Reeditar um pensamento, uma visão, pode fazer o significado
dela ser completamente mudado, tudo parecera diferente mesmo estando na mesma. Saber
administrar e organizar pensamentos nos dias de hoje é um dos trunfos e habilidades
mais poderosos que se pode ter. Ser dono de si mesmo, não controlado pelo
sistema ou se deixando levar, é uma escolha e uma libertação.
Continua...
Amei ❤❤❤
ResponderExcluirA espera do proximo capitulo 😍
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirApaixonada pela história 😍.
ResponderExcluirObrigada Kell!