quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A menina do cabelo azul [26] - Ar rarefeito!



- Que faculdade você vai fazer? Já se decidiu, Caio?
Caio pensava em inúmeras opções desde o começo do ano e nunca se decidia, eles já estavam em novembro, logo iriam se formar, o cerco estava fechando. Ele tinha que decidir. Manu, que conhecia sua indecisão, perguntou sem esperar novidades. Mas, foi exatamente isso que teve:
- Quero uma federal, mesmo que seja em outro Estado.

“Mesmo que seja em outro Estado”? Aquela frase ecoou pela mente de Manu, ela vivia tão envolvida com a história de Pietra, com as coisas da igreja que se esqueceu dessa preocupação tão comum a fase que vivia: o futuro. Psicologia era sua preferência, não se imaginava em outro curso, ter essa escolha feita já a tranqüilizava muito. Todos tinham feito o Enem e estavam esperando o resultado que sairia em janeiro para poderem escolher o rumo de suas vidas. Esse era outro problema de Pietra, cada semana ela queria um curso. Manu dava “Graças a Deus!” por Carlinhos ter aparecido e esse assunto ter ficado com ele. Ele tinha muita paciência.
Depois do que aconteceu com Carlos, Pietra ficou uns dois dias sem ir à escola. Manu se preocupava, mas Pietra não facilitava. O lado bom disso era que Manu tinha mais tempo com Caio, ela olhava pra ele e não acreditava que estava acabando a escola, que passou tão rápido, que eles não se veriam mais todos os dias. Mas ir para outro Estado? Ela não esperava isso, perguntou tão despretensiosamente, que essa resposta pegou-a totalmente de surpresa. Se eles queriam ficar juntos, como ele considerava estudar em outros Estados? Isso não fazia sentido para ela, não naquele momento. Um silêncio longo ficou entre eles.
- Sério?! – Foi a única coisa que conseguiu falar.
- É. Estive pesquisando bastante. Gosto do estilo das faculdades federais, o ambiente e o incentivo que dão à pesquisa, artigos, ao seu crescimento e aprofundamento, sabe? Fora que além de ser de graça, é bom o peso desse nome “federal”.
- Mas que curso?
- Engenharia. A princípio, a que mais me interessa é a civil.
- Você sabe que precisa de uma nota alta, né?
- Acho que fui bem, não sei se o suficiente, por isso estou considerando ir para outros Estados.
- Então parece que se decidiu mesmo...
- Sim! – Sorriu, aliviado.
- Mas e seus pais, o que acham de você ir para outro Estado?
- Eles apóiam, confiam em mim, sabem que não vou fazer besteira e acham que vai me amadurecer ainda mais.
- Mas você moraria onde? Republica? Não tem medo, não?
- Viver é isso Manu, experiências novas. E sem dúvida, uma experiência única. Dependendo do Estado tenho parentes, mas mesmo que não tenha, a gente dá um jeito.
Manu não conseguia disfarçar sua decepção. Caio notou.
- Entendi... – Ela falou.
- Mas calma, são só possibilidades. Tenho que pensar sobre elas. Se Deus quiser vou ficar bem aqui, no Rio de Janeiro, na UFRJ, bem pertinho de você. - Ela sorriu, sem graça. Ele continuou - Eu sei que você não estava esperando isso. Mas eu precisava conversar com você. Eu sei que estamos orando, mas eu acredito na soberania de Deus.
- Como assim? – Manu estava fragilizada.
- Eu tentei falar isso de forma natural, pra não te assustar, mas parece que não foi uma boa idéia. Desculpa, parece meio frio, né? – Manu balançou a cabeça concordando, ele segurou suas mãos, sentado de frente para ela, no pátio da escola. – A verdade é que meu coração aperta só em me imaginar longe de você. Sinceramente, parece que é algo que não tem cabimento. Mas eu tenho que ser realista e avaliar as opções que tenho, o que realmente quero.
- Não, você esta certo. – Disse Manu, tentando se convencer disso. – Mas não é só federal que é boa. Tem muitas particulares boas também. É só escolher bem.
- Eu sei. Mas tenho orado bastante sobre o assunto, pra Deus me dar uma direção, e tem ardido no meu coração um desejo grande de fazer federal. Só que isso não é um ponto final entre a gente. Como disse, creio na soberania de Deus. Minha mãe sempre fala que quando algo é de Deus as coisas se encaixam, se realmente for de Deus nosso relacionamento, tenho certeza que vai dar certo. Vai ser mais uma confirmação.
- Mais uma? – Manu estranhou.
- Parece que a cada dia que estou com você vejo coisas quem confirmam nosso namoro. – Ele olhou fixamente nos olhos de Manu, que mal piscava - E o mais legal é que apesar disso me deixar muito feliz, eu tenho paz, não tenho pressa. Tenho plena convicção que vai acontecer na hora que tiver que acontecer. Então quero que relaxe, vamos fazer nossa parte e confiar em Deus!
- É... – Ela olhava cada traço do rosto de Caio, decifrando as emoções que transparecia - Você tem razão. Obrigada por ser sincero comigo. – Ela abriu os braços e ele a abraçou de imediato. Era tão confortante que ela suspirou profundamente.
Essa sensação de “possível perda” dava um arrepio e um aperto no peito que Manu nunca tinha sentido, por alguns momentos o chão parecia ter sumido. Mas ela usou sua fé para lembrar que Deus sempre seria seu chão, mesmo que Caio fosse embora. Caio ir embora?! Manu precisava se acostumar com aquela possibilidade, toda vez que pensava nisso, por alguns segundos lhe faltava o ar, ela fechava os olhos com força. Caio estava perto dela, mas nunca pareceu tão inalcançável, como se ela não fosse capaz de impedi-lo. Como areia que escorre pelos dedos e você não consegue conter. Manu olhou para ele mais uma vez percebendo o significado que ele ganhara em seu coração, da maneira que ele a conquistara e como Deus precisava ajudá-la a encontrar o equilíbrio disso “o mais rápido possível...”, pensava consigo mesmo.

Continua...

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