A menina do cabelo azul [25] - Não era para ser assim...

Pietra pegou o celular da mão de Manu e olhou a mensagem: “Pietra, vou facilitar pra você. Foi bom enquanto durou, mas já chega. Acabou. Ass: Carlos”.

- Como é que é?! – Pietra falou alto e ficou de pé, contrariada.

Todo mundo da sala olhou e Manu riu como se não fosse nada demais:

- Pietra, você é tão engraçada... – E puxou Pietra pela mão para fora da sala.

- Mas como assim, Manu? Essa é a consideração que mereço? – Bradou fora da sala.

- Não era isso que você queria, amiga?

- Não desse jeito! Namoramos meses e ele termina comigo pelo celular como se tivesse cancelado... uma pizza?!

Manu não agüentou e riu da comparação. Pietra franziu a testa.

- Desculpa, vem cá. – Manu puxou Pietra para longe da sala. – Aconteceu alguma coisa para ele agir assim? Vocês brigaram, estavam estranhos da última vez que se viram?

- Não! Mas eu vou saber agora! – Pietra começou ligar para ele.

- Pietra, não! Calma! Tu é sempre impulsiva!

- Não amiga, não dá. Ele foi meu primeiro namorado. Isso é atitude de homem? Eu queria terminar sim, mas de forma decente. Tenho valor, ora veja...

Manu colocou a mão na cabeça, preocupada com a amiga. Ele atendeu e Pietra colocou no viva-voz para o desespero de Manu, que temia não se segurar e interferir na conversa.

- O que foi isso, Carlos? Como assim? É assim que você “me ama”?

- Não sei por que esta nervosa, não é o que você queria?

- Quem disse?

- Você! – Falou com um tom estranho.

- Eu? – Pietra ficou confusa.

- Vai dizer que não é verdade agora?

- Sim, sim. – Disse gaguejando. – Mas como te falei?

- Você não me falou.

- Ah beleza, quer terminar comigo e me deixar louca também? – Manu apertou o braço da amiga pra ela se acalmar.

- Você falou para a Manu.

- Eu?! – Manu tapou a boca percebendo que falou demais.

- Sim Manu, você.  – Carlos não pareceu muito surpreso de Manu estar ali. – Agora pouco, meu telefone tocou, era você, Pietra. Atendi e você não me respondia. Então fiquei tentando ouvir e ouvi a conversa sua com a Manu.

Manu e Pietra olharam uma para outra, incrédulas.

- Esta falando sério? – Manu falou já que Pietra não conseguia. Sua feição de raiva tinha mudado completamente, estava pasma.

- Sim. Você sente que essa é a escolha certa. Não sei por que, mas parecia bastante decidida. Então resolvi facilitar. Não quero ficar mais um segundo com alguém que do nada acha que não sou mais suficiente.

- Não queria que terminássemos assim, Carlos. – Pietra disse constrangida e com pena.

- Tudo bem. No final foi bom. De uns tempos pra cá você andava bem chata. Não sei quanto tempo ia agüentar. – Disse em um surto de sinceridade.

- Como?! Então estar próxima de Deus é ser chata pra você? – Pietra ficou chocada, nunca esperava essa atitude.

- Acreditar em Deus é uma coisa, ser fanática é outra.

- Fanática? Você vai a igreja uma vez por semana, lê um versículo por mês e acha que isso é vida espiritual? Vida espiritual é todo dia, Deus não é um acessório que fica na estante e você pega só quando precisa. Ter intimidade com Deus não é um peso, foi a melhor coisa que podia ter me acontecido.

- Pra você Pietra, não pra mim.

- Não te entendo! Depois que me aproximei de Deus nosso namoro melhorou! Fiquei mais carinhosa, mais compreensiva, diminuímos nossas brigas...

- Mas só falava de Deus e da Bíblia!

- Só não, falávamos de tudo, e sempre que eu tentava falar nisso você mudava de assunto.

- Claro!

- Claro, por quê? Você não é cristão? Como não gosta de ouvir falar de Deus?

- Se eu quisesse ouvir pregação ia pra igreja. Você era minha namorada.

- Que babaca! Nossa! Não sei nem o que falar. – Pietra e Manu estavam espantadas.

- Que bom. Vou indo. – Falou com ar entediado.

- Não queria terminar assim, pensei que fossemos maduros...

- Falou a garota que acabou de me chamar de “babaca”!

Pietra respirou fundo e tentou:

- Então vamos terminar brigados?

- Parece que sim.

- Carlos, passamos bons momentos juntos...

- Não se preocupe. Parece que Carlinhos já esta mais que pronto para me substituir.

- Ah Carlos, para! Eu sei que você esta magoado, desculpa. Mesmo que você esteja com raiva de mim quero dizer que te perdôo e peço perdão por ter falado coisas erradas. Nossas visões mudaram, então não adianta. Você não vai me entender e eu não vou te entender. Mas desejo que seja feliz nessa nova fase.

- Também.

- Então vou lá.

- Vai tarde. – E desligou.

Pietra começou balançar as mãos, nervosa.

- Calma nega, calma.

- Isso foi horrível!

- Mas acabou! Calma!

Pietra começou chorar, Manu ficou consolando a amiga. Carlinhos, voltando do banheiro viu, de longe, Pietra desolada. Seu coração apertou. Mas sabia que aquela não era a hora. Olhou por uns instantes, em silêncio, e voltou para a sala.

Continua...