quinta-feira, 23 de junho de 2016

A menina do cabelo azul [3]

Veja a parte 1 AQUI e a parte 2 AQUI!

- Manu, posso falar com você? - Indagou Caio - É sobre aquele assunto.
- Ou seja, "Pietra, te manda!". - Pietra brincou e foi saindo.
- Claro que não - Manu segurou o braço de Pietra. - Não há segredos aqui.
- É um negócio da igreja, não sei se Pietra vai entender bem.
- A gente explica, oras.
Pietra não era evangélica, nem católica, nem nada. Acreditava em Deus, mas sem grandes raízes. Caio estava receoso em envolver Pietra nisso, já Manu, achou uma boa oportunidade para ela se aproximar da igreja e mais ainda, de Deus. Pra Manu, que já tinha experiência nisso, era uma questão de "preparar bem o solo". Preparar bem Pietra, com paciência, amor e sabedoria. Até mesmo o fato de Pietra acabar conhecendo alguns defeitos da igreja logo de cara, conduzindo bem, Manu achava saudável. Achar que a igreja é perfeita é uma das piores imagens que se pode vender a alguém que não a conhece. Manu tinha plena consciência disso. Cristãos realmente firmes tem bases sólidas, boas preparações, cheias de clareza, fé e realismo. Era isso que Manu estava disposta a dar. Muitos ignoram essa fase, deixam pessoas novas soltas pela igreja. Mas eles precisam de direção, se posicionar, saber como agir e pensar sobre as verdades da fé. Não, não é algo de um dia ou dois. Mas por Pietra, Manu usaria quantos fossem necessários.
- Bom, depois de muito pensar, tive uma ótima ideia para conseguirmos revolucionar minha igreja! - Começou Caio.
- E por quê? Precisa? Há algo errado com ela? - Perguntou Pietra - Que história é essa?

- É o seguinte miga, eu e Caio conversamos muito um dia desses e combinamos de fazer algo para ajudar melhorar a igreja dele. O que acontece, a igreja evangélica não é a mesma em todos os lugares, como você já deve saber, tem segmentos, chamamos de denominações. Aí cada denominação tem um nome, Assembléia de Deus, Batista, Quadrangular... E por aí vai. Todas usam a mesma Bíblia, mas a postura, a forma que a interpretam e reagem a ela é diferente. Fora o próprio estilo da igreja, que reflete muito a liderança do pastor ou o histórico daquela igreja, de quem a fundou. Por exemplo, a Assembléia, quem fundou foram gringos que tinham costume de usar terno e ser conservadores, e o que aconteceu com a Assembléia?
- Até hoje usam ternos e são mais formais. É o costume lá. - Completou Caio.
- Entendi. - Falou Pietra digerindo tudo aquilo.
- A Bíblia é igual, as pessoas não. Por isso essa variedade, aqui na terra. - Explicou Manu.
- No céu seremos uma igreja só - Completou Caio. - Essas diferenças aqui, em certo ponto são até boas: tem lugar para todo mundo!
- Mas tem alguma que é mais certa? - Indagou Pietra.
- Todo mundo vai achar que é a que participa né? - Manu riu, Pietra concordou - Mas o fato que queríamos explicar é que independente do costume que se tenha em uma igreja, isso não pode estar acima da Bíblia.
- Só que em muitos lugares tem acontecido isso. - Falou Caio - Esses costumes estão tão presentes que as pessoas se confundem e, sem perceber, dão a eles um peso maior que a própria Bíblia, a ponto de julgar e criticar que não os segue. Esquecem que não somos Deus para julgar, esquecem que o amor é a essência do evangelho.
- Na igreja evangélica ou não, sempre tem um povo que viaja! - Pietra concluiu.
- Não diria melhor. - Caio riu.
Ele não estava acostumado com esse tipo de evangelização, mas se sentia feliz e empolgado em participar disso e ver dando certo. Ele achou impressionante como o jeito de falar, a sabedoria, fazia tanta diferença! Evangelizar não é sair falando tudo que vem à cabeça, as pessoas não são burras, não tem que "engolir" Deus, tem que ser convencidas que precisam. Ele percebeu que, sem dúvida, o amor com que Manu falava era o mais importante, ela se importava, levasse o tempo que for. Tem gente que é sábio, tem jeito pra falar, mas não é por amor, o falar pode até ajudar, mas o amor convence. Caio via isso nos olhos de Manu e isso, o cativava muito.
- E na igreja do Caio tem essa galera. Eles são bem conservadores e isso entrou tanto na cabeça deles, que andam até preconceituosos. Porque mesmo cristãos Pietra, continuamos sendo humanos. Tem uma frase que gosto muito que diz "A igreja não é museu de santos, mas um hospital de pecadores". Ou seja, esta ali quem reconhece que precisa melhorar, que precisa e quer mais de Deus, entende?
- Mas como assim pecadores? Eu nunca entendi isso. Sou pecadora?
- Pecado é quando não fazemos a vontade de Deus, são coisas que nos afastam dele. A Bíblia fala que Jesus é o caminho. Caminho pra onde? Para o céu, para a salvação. Então quando pecamos se afastamos de Deus, do caminho.
- Salvação do que? Eu estou bem. - Pietra ficou confusa.
- Miga, quero que você imagine na sua mente uma gota. Imaginou?
- Sim.
- Beleza. Agora imagine o oceano.
- Imaginei.
- Então, a gota é a vida terrena, o oceano é a vida eterna.
- É, baita diferença, nem se compara!
- Pois é. E esse tamanho é proporcional a importância. Entende porque se importamos tanto com a vida espiritual? Ela é eterna.
- E você sabe os lugares onde podemos passar essa vida eterna né? - Perguntou Caio.
- Céu ou inferno. - Respondeu Pietra.
- Sim. Eu quero ir para o céu e acredito que você também. E como eu disse, Jesus é o caminho. Mas mais que querer simplesmente ir para o céu para não ir para o inferno, devemos querer ir para ficar juntos de Deus, por causa de quem Ele é. Viver com Jesus é a melhor coisa que existe! Ele é nosso chão, nossa força, nossa paz. Quando você conhece Deus, o amor dele é tão transbordante, que não tem como não se apaixonar.
- Que lindo, deve ser mesmo. Quando você fala dele seus olhos até brilham.
Manu sorriu constrangida. Caio falou:
- E o que nós queremos Pietra é ajudar essas pessoas da minha igreja. Elas estão sendo preconceituosas, mesmo involuntariamente. Terno não salva ninguém, como você aprendeu.
- É Jesus! - Respondeu orgulhosa de ter entendido.
- Caraca, tá sabendo mais que muita gente. - Caio riu, ele e Pietra fizeram um toquinho com as mãos.
- E como pretendem fazer isso? - Pietra se animou.
- Eu tive uma ideia genial. Só que não posso contar tudo ainda.
- É isso mesmo "produção"? Você vem, enche a gente de expectativa e diz que não pode falar? - Questionou Manu.
- Calma, vamos por partes, o que puder, eu falo. Mas eu queria fazer uma pergunta, acho que já te ouvi comentando sobre isso. Você faz trabalhos comunitários, né?
- Sim. Com um grupo da igreja, a gente vai a asilos, orfanatos, hospitais... Distribuir um pouco de alegria e amor.
- Ahhh, então era por isso que tu falou que ia ao hospital outro dia? - Pietra retrucou.
- Sim! Vamos em alguns finais de semana.
- Posso participar? Adoro isso!
- Claro miga, vai ser uma honra, o pessoal vai te amar. É um bando de doido, quando vamos ao orfanato vamos fantasiados. Às vezes encenamos até histórias da Bíblia pra criançada.
- Ah não, pára! Amei!
Caio ficou só olhando, as duas mega empolgadas. Manu tinha um jeito diferente de lidar com as coisas. Na igreja dele, para participar de qualquer atividade tinha que estar seis meses na igreja, ter feito discipulado e ser batizado. "E Manu aceita ela assim, de graça?", era difícil pra ele aceitar isso, mas tentou fingir que estava tudo bem.
- Mas por que você quer saber disso Caio? - Perguntou Manu.
- Porque no próximo mês vai acontecer o "mês missionário" lá da igreja. E pensei em registrar esse trabalho que você faz, filmar, mostrar um pouco. E dividir em quatro vídeos, um pra cada domingo. Afinal, isso é uma forma de fazer missões.
- Tá, ok... - Falou Pietra - E a parte genial?
- Nossa! Delicada hein? Mas enfim, essa parte é surpresa. E aí, topam?
Manu olhou para Pietra, elas pensaram um pouco, até que Manu falou:
- Ta bom, confio em você!
- Beleza, também estou dentro. - Pietra concordou.
- Então, mãos a obra! - Caio comemorou.
Ele tinha um plano. Um plano ambioso. Estava orando pra Deus tomar a frente. Filmar seria só a parte fácil...

Continua...
Beeijinhos

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